Não tenhais medo...


Cantar da Alma

12-10-2012 00:36

No inicio do Ano da Fé, este poema de  São Joao da Cruz, fala-nos da Fé na Fonte que mana e corre ainda que seja noite. Nada mais actual, já que a crise instalada no mundo em geral e na Europa em particular (para já não falar do nosso país), veio fazer cair a noite sobre tantas certezas e autosuficiências instaladas, nos nossos intimos. Com elas, perdemos muitas vezes a noção da Fonte que tudo rege e alimenta  .... Neste ano da Fé  nós Cristãos somos chamados a encontrar, ainda que seja noite, e a beber da água desta  eterna fonte escondida, no vivo Pão que nos dá vida.

 

Cantar da Alma

Bem eu sei a fonte que mana e corre,

Embora seja noite.

Aquela eterna fonte não a vê ninguém

E bem sei onde é e donde vem,

Embora seja noite.

Não sei a fonte dela, que não há,

Mas sei que toda a fonte vem de lá,

Embora seja noite.

Não pode haver, eu sei, coisa tão bela

E céus e terra beleza bebem dela,

Embora seja noite.

Porque não pode ali o fundo achar,

eu sei que ninguém a pode atravessar,

Embora seja noite.

A claridade sua não escurece.

E sei que toda a luz dela amanhece,

Embora seja noite.

Tão caudalosas são suas correntes

Que regam céus, infernos e as gentes,

Embora seja noite.

E desta fonte nasce uma corrente

E bem sei eu que é forte e omnipotente,

Embora seja noite.

E das duas a corrente que procede

Sei que nenhuma delas a precede,

Embora seja noite.

E esta eterna fonte está escondida

Em este vivo pão a dar-nos vida,

Embora seja noite.

Aqui está a chamar as criaturas

Quem bebem desta água, e às escuras,

Porque é de noite.

Esta viva fonte que desejo,

Em este pão de vida, aí a vejo,

Embora seja noite

S. João da Cruz

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